Ouça aqui o álbum na íntegra em streaming
É a nostalgia de um som que remete aos anos 70 – que traz de volta à memória os bares esfumaçados de beira de estrada de uma América interiorana que ainda acredita no bem e no mal – que explica o conceito de Horehound, debut álbum do The Dead Weather. As letras, que trazem um tom depressivo e sexual, são temperadas com influências do blues e do rock de garagem, que fazem com que a estréia do grupo seja, ao mesmo tempo, agressiva e melancólica. Ou, como definiu Jack White em uma entrevista, “um álbum de gothic blues”.
Personificando o demônio de um mundo antigo, está a vocalista Alison Mosshart, do The Kills, na companhia de Jack Lawrence, baixista do The Raconteurs, e Dean Fertita, tecladista e guitarrista do Queens of The Stone Age. E, manipulando cada som obscuro e cada nota musical – já que é óbvio que ele não se contentaria com menos –, está Jack White, que aqui sai do papel de vocalista e guitarrista e assume a bateria. Mas não pensem que Jack White saiu dos holofotes, porque a sonoridade deste álbum do The Dead Weather fala muito poucos dos demais integrantes da banda, e diz tudo sobre o idealizador do projeto. É a bateria de White que conduz todas as músicas e define a sonoridade pesada e intensa do álbum, muito mais do que qualquer outro instrumento.
Horehound foi composto e gravado em um período de apenas quinze dias, na central da Third Man Label, de Jack White. O estúdio, em Nashville, abrigou as rápidas gravações do álbum, que segundo a banda simplesmente surgiu, em meio a conversas, poucos instrumentos e algumas velas queimando. Como é óbvio que Jack White é um músico muito experiente para realmente acreditar que um sinal divino simplesmente fez cada integrante do estrelado grupo ter uma idéia brilhante do nada, as declarações vagas a respeito do processo de composição da estréia do The Dead Weather ajudam a entender um pouco do charme desse trabalho, que é envolto em uma aura de mistério e sensualidade. Quanto menos Jack White explica, mais os fãs se debruçam sobre as letras dúbias e o vocal propositalmente rasgado e com cara de bad girl de Alison para entenderem a essência de Horehound.
O clima sexy do álbum, que traz a sensação de alguém que está fascinado e, ao mesmo tempo, em um clima de ameaça constante, fica por conta dos vocais de Alison Mosshart, que aqui se distancia de seu trabalho mais pop do The Kills e tenta entrar de cabeça em um som mais forte e que exige outras características de sua voz. E ela abraça a causa, tentando cantar como uma diva rouca e sensual e explorando diferentes tons nas faixas mais agressivas, como 60 Feet Tall e Bone House. Embora seu trabalho em Horehound seja consistente e passe a agressividade necessária em grande parte das faixas, fica claro que a vocalista ainda precisa de muita experiência e estrada para alcançar a versatilidade vocal que as composições mais voltadas para o blues que parecem ser a pegada do The Dead Weather exigem a cada nota.
A bateria de Jack White domina de tal forma o álbum, e de uma maneira tão surpreendente, que é impossível não atribuir a ele a responsabilidade por esse debut do grupo ser tão agradável aos ouvidos. A bateria de Jack White é que amarra o álbum e atribui a ele uma qualidade narrativa consistente. O baterista, aqui, domina desde o início do álbum, com 60 Feet Tall, seguindo por I Cut Like a Buffalo (única composição que é apenas de White) e desembocando na deliciosa composição faroeste Rocking Horse, cuja lentidão vem num clímax descendente, de um álbum que começa batendo em nossos ouvidos com violência e termina acariciando as mesmas letras que antes parecia vociferar.
Os pontos fortes do álbum, entretanto, estão guardados para o final – com Bone House, que traz uma ótima performance de Alison Mosshart, a energética e intensa 3 Birds, e a melhor composição de Horehound, Will Be There Enough Water?, que traz influências claras de Bob Dylan, compositor que foi reinterpretado no álbum com um cover da inusitada e pouco conhecida New Pony (para quem quiser comparar, clique aqui para ouvir a versão original de Dylan).
O The Dead Weather pode não ter criado o álbum mais original de 2009, mas com certeza pode ser considerar responsável por ter trazido um dos trabalhos mais cativantes, inteligentes e equilibrados do ano até agora. O que é um excelente resultado para Jack White, o múltiplo homem de três bandas, e o restante de sua trupe do The Dead Weather.
A melhor musica que eles gravaram que eu ouví foi o cover do Gary Numan “Are friends electric?”ficou nota 10,a original,post-punk de 1979,já era interessante.
Depois,ouvindo o album,comparando com esta,fiquei um pouco decepcionado.
É interessante que é bem Blues,e é meio pesado, “deprê”.
De 0 a 10 daria nota 6 ou 7.
O White Stripes era bem mais legal,mas acho que “Are friends electric?”vai ficar como uma das melhores musicas/cover do ano.você deveria ter falado dela.
Quando eles deixam o som mais “limpo”,com menos peso,mas com alguns efeitos eletronicos como em “3 birds”,”Bone house”,fica melhor.Deveriam seguir este caminho.
“Rocking Horse” é interessante,nos primeiros acordes lembra a grande (nota 10)”Manguetown” do Chico Science,embora não tenha nada a ver.